Jogos manipulados

Brasil deve sair do topo do ranking de países com mais jogos manipulados após 2 anos

O Brasil deve deixar a liderança no ranking mundial de países com mais jogos manipulados após dois anos seguidos em primeiro lugar. A Sportradar, empresa de integridade e tecnologia esportiva parceira de 15 federações estaduais, CBF, Conmebol, Uefa e Fifa, afirmou que o país apresentou uma queda de 45% no número de jogos suspeitos de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período de 2023.

Jogo suspeito é qualquer partida que exibe “provas contundentes” de manipulação de resultados ou com indícios críveis desta.

Seguindo a projeção para o resto do ano, o Brasil deverá ter menos partidas suspeitas que os países em segundo e terceiro, República Tcheca e Filipinas.

A CBF também identificou uma redução de até 65% no recebimento de relatórios de jogos suspeitos em 2024. Diferentes clubes, federações, a própria CBF e empresas de apostas têm adotado práticas de prevenção e combate à manipulação de resultados, ou match-fixing. Porém, não se pode dizer ainda que a redução é consequência desse movimento recente.

“Como em quase todo crime, os manipuladores procuram os maiores ganhos com os menores riscos. Temos alguns fatores [para a redução]: há maior visibilidade dos casos, CPI, regulamentação do mercado de apostas, investigações”, explicou o diretor de integridade da Sportradar Brasil, Felippe Marchetti.

“Temos as ações pontuais, como jogadores conscientes, iniciativas de educação, plataformas de treinamento. Os relatórios mais detalhados para as federações também colaboram porque trazem muitos dados que auxiliam as investigações. Isso tudo afasta manipuladores”, conta Felipe Marchetti.

Federações estaduais monitoram competições regionais

Em 2022 e 2023, o Brasil registrou 152 e 109 casos de jogos suspeitos, respectivamente. Mesmo com a redução de 29%, o país seguiu na liderança global. A maioria dos relatos veio do futebol.

Geralmente, essas partidas são válidas por competições regionais, da segunda divisão ou inferiores, organizados pelas federações estaduais do esporte. Algumas associações têm promovido medidas de prevenção e combate à manipulação de resultados. Atualmente, 15 estados monitoram partidas atrás de match-fixing, enquanto 12 não o fazem.

Alagoas

A Federação Alagoana de Futebol (FAF) reuniu os principais representantes dos clubes da Segunda Divisão alagoana para uma palestra sobre os riscos dos jogos manipulados. Esses times também contam com uma plataforma educacional sobre os riscos do envolvimento com apostas.

Em 2022, mais de R$ 5 milhões foram apostados no Campeonato Alagoano. Houve 7 suspeitas de manipulação na Copa Alagoas de 2023, e mais uma possível, ainda não investigada na segunda divisão deste ano. Quando a federação recebe alguma suspeita, o procedimento é encaminhá-la ao tribunal de justiça desportiva local, à CBF e às autoridades policiais.

Felipe Feijó, presidente da FAF, explicou como a entidade tenta buscar outras medidas preventivas. “Não dá para criar uma lista de atletas suspeitos e encaminhar. Há discussões sobre mecanismo de defesa, mas há questões legais que impossibilitam tomar certas atitudes”, explicou.

Minas Gerais

Outro exemplo é o da Federação Mineira de Futebol (FMF), que firmou uma parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Minas Gerais (Gaeco-MPMG) para trocar informações sobre jogos manipulados. Assim, será mais fácil identificar pontos de alerta.

A federação também ofereceu treinamento para o Tribunal de Justiça Desportiva, e incluiu em seu contrato de monitoramento com a Sportradar que ela própria tem o poder de executar varreduras por apostas suspeitas.

“A primeira coisa é a inteligência, não só correr atrás. A gente consegue saber, com antecedência, os jogos que podem vir a ter manipulação. Naquele da Patrocinense, pela Série D, já sabíamos que teria tentativa, e passamos para CBF, Sportradar e Polícia Federal”, conta Gabriel Cunha, diretor de competições da FMF. “Tivemos uma redução muito grande de possíveis ocorrências.”

O próximo passo da organização será o oferecimento de trabalhos de conscientização sobre o mercado de apostas para clubes e atletas mineiros.

Santa Catarina

A Federação Catarinense de Futebol (FCF) publicou uma cartilha com orientações, além de firmar parceria com as federações do Rio Grande do Sul e Paraná para obter a plataforma educativa da Sportradar, e outra aliança com a bet Rei do Pitaco para o monitoramento de competições adultas.

Segundo Rubens Renato Angelotti, presidente da FCF, “o monitoramento fornece informação sobre qualquer nível de suspeita ou irregularidade, ou concentração de apostas numa determinada odd ou partida. Ele identifica automaticamente e informa em tempo real, aí a federação toma a decisão na hora, até de anulação da partida. Não tivemos nenhum processo suspeito neste ano e nem queremos ter.”

Jogos manipulados: clubes têm feito ações de conscientização

Equipes da Série A do Campeonato Brasileiro também tem realizado ações de prevenção à manipulação de resultados por meio da educação.

Palmeiras e Atlético/MG sediaram palestras para seus jogadores em setembro sobre casos reais de jogos manipulados, riscos e consequências.

O gerente de Compliance, Privacidade e ESG do Galo, Fernando Monfardini, conta que o treinamento já havia sido realizado em 2023, e o objetivo é que seja anual a partir de agora: “A iniciativa foi muito bem recebida pelo elenco. Eles tiraram muitas dúvidas, fizeram muitas perguntas. Desmistifica a ideia de que o futebol fica alheio. Os jogadores têm interesse em saber mais. Há uma falha da nossa indústria de não educar.”

O Athletico/PR realizou seu próprio workshop em maio, voltado à educação e proteção dos atletas contra corrupção. A ação foi realizada em parceria com a Genius Sports, outra empresa de tecnologia esportiva e integridade. A Genius atende a Premier League, a federação de futebol da Alemanha (DFB), a Associação de Futebol da Argentina (AFA), a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e o Novo Basquete Brasil (NBB).

O Botafogo organizou um evento semelhante para jogadores principais e da base, também com a Genius.

Segundo fontes que acompanharam esses encontros, muitos atletas da elite do futebol brasileiro não estão cientes das restrições para o envolvimento com apostas ou repasse de informações privilegiadas a terceiros.

(Fonte: ge)

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