Como será o programa de prevenção de ludopatia promovido pela ANJL; veja etapas

A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) anunciou, nesta terça (1°), o Programa de Pesquisa e Prevenção de Ludopatia, iniciativa em parceria com a plataforma de saúde Somente S.A. para traçar o perfil de vício em apostas no Brasil e traçar estratégias para reduzir o impacto do jogo compulsivo.

“A ludopatia é um transtorno comportamental caracterizado pela compulsão em jogos de azar, com sérias repercussões financeiras, sociais e de saúde mental”, afirmou a ANJL na coletiva. “A crescente popularidade das apostas online e a ampliação do acesso aos jogos de azar tornaram essa questão um problema de saúde pública relevante.”

“Em primeiro lugar, partimos do que precisamos buscar. A partir daí, procuramos os parceiros ideais para poder fazer essa trilha de conhecimento”, conta Eduardo Pedrosa, coordenador da área de saúde mental da Somente S.A., empresa especializada em teleatendimento psicológico e psiquiátrico que atuará em parceria com a ANJL no programa.

Como será a pesquisa para tratamento de ludopatas da ANJL?

O financiamento do programa será feito por meio de um “fundo especial, com contribuições das lotéricas associadas e de plataformas de apostas online, além de incentivos fiscais para operadores que implementarem práticas de jogo responsável.”

O programa será coordenado pela ANJL e a Somente S.A., com a colaboração de psicólogos, psiquiatras e pesquisadores das principais universidades brasileiras. “Haverá também um comitê consultivo composto por representantes das lotéricas, operadores de jogos online e associações de saúde mental”, segundo a ANJL.

A iniciativa conta com dois objetivos principais: identificar o perfil do ludopata brasileiro e oferecer o suporte e tratamento adequado para jogadores compulsivos e suas famílias.

A pesquisa será desenvolvida em quatro etapas: planejamento e definição de parcerias, coleta de dados e pesquisa de campo, análise e implementação de políticas de prevenção e monitoramento e avaliação. “A primeira etapa já foi concluída, agora vamos para o campo. Em três meses, já teremos uma proposta concisa para começar a agir a partir de janeiro, quando começa de fato a regulamentação”, conta Perdrosa.

Para a pesquisa de campo, serão recrutadas 1.000 pessoas, jogadores regulares de jogos de azar, na proporção de 20% que frequentam lotéricas físicas, 40% usuários de plataformas de apostas online e mais 40% de jogadores de bingos e cassinos.

O atendimento será feito nos bairros de Paraisópolis, Heliópolis e Vila Nova Jaguaré, em São Paulo. “Embora os perfis socioeconômicos D e E não sejam o público-alvo das casas de apostas, a indústria entendeu que os casos de compulsão que atingem essa pequena parcela são mais sensíveis e, portanto, merecem maior atenção”, afirmou a ANJL em comunicado.

A pesquisa presencial será feita em parceria com o CEBAS (Centro de Estudos e Ação Social), instituição que já atua em Paraisópolis e Heliópolis, dando formação acadêmica e prática para futuros psicólogos com especialização em ludopatia.

Haverá ainda 20 mil atendimentos feitos de forma remota pela Somente S.A., a fim de atingir jogadores e apostadores de todo o país.

Metodologia de pesquisa dos ludopatas brasileiro

A coleta de dados será feita por meio de um questionário padrão, englobando questões sobre perfil demográfico, comportamento de jogo, impacto psicológico e familiar, motivações para jogar, consequências e comportamentos de risco, além de entrevistas mais a fundo com um subgrupo de 100 participantes.

Mesmo antes da pesquisa, Pedrosa afirma que a pesquisa espera encontrar outros fatores que impulsionam o vício em apostas:

“75% dos ludopatas têm outro distúrbio de saúde mental, como ansiedade e depressão. O consumo de drogas também é muito comum (…). Precisamos desse amplo estudo, com 21 mil pessoas, para identificar exatamente o perfil dessas pessoas”

Serão utilizadas as escalas South Oaks Gambling Screen (SOGS) e a Escala de Severidade de Jogo Patológico (G-SAS), ferramentas utilizadas por profissionais de saúde mental ao redor do mundo para avaliar a presença e a gravidade do jogo patológico em indivíduos.

Plano de ação da ANJL para combate à ludopatia

Após a análise dos dados, quando serão identificados perfis e comportamentos, a ANJL poderá prosseguir com o desenho de medidas para enfrentar o jogo compulsivo. Enquanto isso, há algumas ações já sendo tomadas.

  • Programas de Jogo Responsável, como a criação de um sistema de autoexclusão em todas as plataformas de apostas online e lotéricas físicas associadas, e a criação de limites financeiros semanais e mensais para jogadores identificados com risco de ludopatia.
  • Campanhas de conscientização sobre os riscos do jogo, voltadas para dicas de controle financeiro e identificação precoce de sinais de vício.
  • Ampliação de parcerias com instituições locais e clínicas especializadas, com foco em oferecer suporte e tratamento de qualidade para jogadores compulsivos.

“Sem tratamento não existe cura”

Segundo Pedrosa, o índice de ludopatas no Brasil vai de 0,5% a 2,5%, enquanto que outros países têm taxas de 0,1 a 0,2%. “Tudo que você traz a uma nova realidade, há uma predisposição maior das pessoas a errarem. Com o tempo, o jogo vai virar uma coisa normal.”

A ANJL espera alcançar alguns objetivos ao longo do tempo, como a “redução de 20% no número de jogadores compulsivos ao longo de 2 anos, aumento de 30% no uso de serviços de autoexclusão e limites de jogo, adesão de 70% das plataformas e lotéricas às práticas de jogo responsável, e aumento de 40% na procura por tratamento e suporte psicológico.”

*Reportagem de João Aguiar

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