Nesta terça-feira (26), a CPI das Bets ouviu os primeiros depoimentos sobre os impactos das apostas esportivas e jogos no Brasil, além de suas possíveis associações criminosas. Dentre os ouvidos estava o CEO da One Internet Group, Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, que foi questionado quanto à sua relação com o Jogo do Tigrinho. Delegados que investigam possíveis esquemas de lavagem de dinheiro também foram ouvidos.
Fernandin OIG foi convocado a pedido da relatora da CPI, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), devido à sua possível associação com o Fortune Tiger, slot desenvolvido pela PG Soft. A One Internet Group (OIG) é suspeita de facilitar operações de apostas, o que poderia estar relacionado a lavagem de dinheiro e outras práticas ilícitas.
Fernando contou à Comissão que sua empresa está regularizada no Brasil por meio da OIG Gaming Brazil, que integra a holding One Internet Group, grupo digital que gera receita através de diversas atividades online, como publicidade e iGaming. O CEO negou qualquer associação ao Tigrinho que, segundo ele, é de uma empresa estrangeira e é apenas disponibilizado por meio de uma plataforma de jogos terceirizada.
Fernandin OIG também declarou que existem versões diferentes do slot: uma original e outra “pirata”, que favoreceria mais a banca. “Eu cheguei a jogar para verificar que as bets ilegais têm algoritmos falsos, são jogos falsos, pirateados”, respondeu à relatora Soraya Thornicke.
O depoente disse “não saber” quais são as pessoas com quem fez contrato para disponibilizar o Fortune Tiger. O senador Marcos Rogério (PL-RO) o repreendeu, afirmando: “Se o representante da plataforma está aqui, fez contrato, está ganhando dinheiro e não sabe com quem contratou e o que foi tratado… estão tratando o Brasil como a casa da mãe Joana.”
Fernando Lima também não soube dizer quantas empresas compõem sua holding.
“Sou sócio da One Internet Group, sou sócio da OIG Gaming Brazil, através da One Internet Group. As que eu lembro agora são essas, mas eu tenho vários outros negócios de que a minha holding é dona, proprietária, mas que são vários negócios e hoje eu não tenho nome aqui para falar.
A One Internet Group começou e atua até hoje com o desenvolvimento de jogos sociais, aqueles famosos quizzes dentro do Facebook, onde a gente chegou a ter, na pandemia, 250 milhões de usuários mundiais. E hoje a gente continua com o desenvolvimento de jogos, mas, com a nossa expertise no mercado mundial, a gente presta serviço de publicidade através das nossas relações, dos nossos contratos com Google, Facebook, redes sociais, para várias empresas do mundo.”
Delegado explicou esquema criminoso à CPI das Bets
O delegado Erik Salum, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investigou como funciona o esquema de lavagem de dinheiro nas apostas online. Segundo ele, criminosos estrangeiros abrem instituições de pagamento no Brasil para movimentar dinheiro “impossível ser rastreado”, enviado na casa de dezenas de bilhões por ano para o exterior: “As caravelas da época colonial foram transformadas nas caravelas digitais: são esses sites que a troco de nada levam bilhões do país, não geram emprego e deixam a pobreza.”
Salum conta que os sites são offshore, sediados em países estrangeiros, e que as organizações utilizam CPFs vendidos ou de pessoas falecidas para abrir os negócios.
“Nós pegamos, pelo controle migratório da Polícia Federal, três chineses que entraram no Brasil com visto de turista, contrataram um CPF na rua, abriram o tal do CNPJ e foram embora. Uma vez que o mafioso consegue uma conta no Brasil, ele volta para o país dele e fica de lá movimentando bilhões.”
Além disso, o esquema é possível porque o Banco Central permite que instituições de pagamento de “baixa volumetria” funcionem sem precisar de autorização prévia. A Resolução 80, de 2021, almejava estimular a criação de fintechs, empresas digitais do mercado financeiro, mas acabou por abrir brechas para esquemas criminosos.
O delegado explicou que as organizações conseguem usufruir do PIX e outros pagamentos mas não estão sob controle do BC. Salum também reportou a prática de movimentar os valores entre diversas instituições diferentes, em um “embaralhamento” que dificulta o rastreio.
Operação Integration
O delegado Paulo Gustavo Gondim Borba Correia de Sousa da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) também depôs na CPI das Bets. Segundo ele, até as bets brasileiras regularizadas podem ter como centrais ao seu funcionamento movimentações financeiras ilegais. Paulo conduz a Operação Integration, que investiga possíveis casos de lavagem de dinheiro no ramo.
A operação identificou que a Esportes da Sorte e a VaideBet realizam seus pagamentos, inclusive por serviços de publicidade de influenciadores digitais e outros veículos, por meio dos serviços de pagamentos, e não a conta própria das empresas. “Eu reputo ilegal, o certo é vir para a contabilidade de sua empresa e de lá sair para os apostadores e pessoas que têm contrato”, disse o delegado.
Paulo Sousa também afirmou que as movimentações financeiras das duas operadoras eram indicativas de lavagem de dinheiro e organização criminosa relacionada ao jogo do bicho e de azar. Os senadores Angelo Coronel (PSD-BA) e Dr. Hiran (PP-RR) lembraram à Comissão que o Ministério Público de Pernambuco pediu o arquivamento do processo referente às bets, mas o manteve em relação ao jogo do bicho.
O senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou o governo federal, que, segundo ele, demorou a efetivar a regularização das apostas online: “Se falava que o Brasil iria arrecadar R$ 15 bilhões por ano. Faz um ano então que nós estamos nós já perdemos R$ 15 bilhão, e a gente fica ouvindo o governo falar que vai ter que cortar R$ 6 bilhões para que possa se adequar ao arcabouço fiscal.”
Fonte: Agência Senado
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