EDER MOTA: Prata de Caio Bonfim na marcha é um prêmio à força de sua família

Imagine você dedicar a sua vida a um esporte, mudar inúmeras histórias da sua região e construir um atleta olímpico para que, 12 anos após suas primeiras Olimpíadas, conseguisse subir na maior competição do planeta, local que sua mãe não conseguiu. Mas seu filho, sim! Caio Bonfim é a prova que o processo de construção de um atleta é muito maior do que apenas 4 anos.

Em 2012, após terminar sua prova nos Jogos de Londres, ele teve que sair de cadeira de rodas na 39ª colocação. Qualquer atleta após uma situação dessas repensaria: essa prova é para mim? Compensa o preço de ser praticá-la? Imagina você sair de casa para exercer a profissão que sua mãe exerceu por anos, ensina por seu pai com tanto carinho, e você acaba hostilizado, xingado e ameaçado por simplesmente marchar? 

O movimento característico da modalidade é o rebolado. Isso acontece porque o atleta não pode perder contato com o solo – no caso, um de seus pés sempre tem que estar tocando o chão, enquanto a perna que vai a frente precisa estar totalmente estendida. Assim, o rebolado ocorre para poder conseguir marchar de forma mais rápida. Aos olhos de pessoas leigas, é algo que gera comentários para poder questionar – erroneamente – a sexualidade de quem pratica esse esporte tão difícil.

Os pais de Caio, dona Gianetti Bonfim e João Sena, sabem muito bem o que é isso. A mãe dele foi uma marchadora na época em que o Brasil mal sabia o que era atletismo, e marchar sempre foi algo natural para Caio – acostumado com a prática desde a infância. Para o país do futebol, qualquer esporte que fuja do usual – no caso, correr atrás de uma bola – é motivo de questionar e julgar quem o faz. Uma lástima.

Histórico de Caio Bonfim

Após a 39ª posição em 2012, Caio cravou o 4º lugar na Rio 2016, poucos segundos após o trio do pódio. No Mundial de Londres 2017, conquistou a 3ª colocação, com uma prova dura e uma medalha muito disputada. Já Doha, em 2019, ficou longe de suas melhores performances. Mais recentemente, em Tóquio 2021, após uma marcha muito dura e quente, terminou em 13º.

Dois anos depois, no ano passado, em mais um Mundial, veio uma nova oportunidade para se redimir – o que não ocorreu de fato, mesmo ficando em terceiro. Certamente, Caio pensou: “É isso mesmo que eu quero?”. 2023, sobretudo, foi um ano que mostrou ao brasileiro que ele tem força para levar o atletismo mais longe: garantiu a única medalha de toda a delegação no Mundial de Budapeste.

2024, por sua vez, começou com ótimas marcas, recordes sul-americanos e a 3ª colocação no ranking mundial. Tudo isso fez com que Caio chegasse a Paris com chances muito claras de medalha, mesmo com seus concorrentes vindo muito bem também. O brasileiro precisava não só marchar próximo do seu recorde, mas torcer para que não fosse marcado mais uma vez pelos árbitros da marcha.

Para quem não sabe, a marcha é o único esporte do atletismo em que a arbitragem é subjetiva – afinal são os olhos dos árbitros e a interpretação da regra que julgam se você cometeu uma falta ou não ao marchar. Os árbitros internacionais, normalmente, vem marcando os brasileiros.

Uma vez, entrevistei o pai de Caio, que comentou essa dinâmica. “Temos que ter a melhor marcha do mundo, sem questionarmos os árbitros. Iremos apenas mostrar que a nossa marcha é a mais limpa que existe”, afirmou.

E assim fez. Caio não ganhou a prata, foi apenas buscar a conquista que galgou nos treinos, que forjou com suor dos treinos no sol quente de Brasília. A sua conquista em Paris mostra o quão forte é a sua família.

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