Pagamento de outorga é maior obstáculo para bets, avalia especialista

Às vésperas do início das operações reguladas das apostas no Brasil, a grande maioria das empresas acabaram abandonando o processo de validação junto ao governo federal. Após uma primeira peneira nas solicitações desde outubro, o aceite final das bets ocorre com o pagamento da outorga de R$ 30 milhões para o Ministério da Fazenda.

Na visão de especialistas, no entanto, o governo errou no custo, pois se trata de uma taxa elevada. Essa é a avaliação de Hiago Piau, CEO da Setebit, plataforma que oferece tecnologia para as bancas, como sistema de odds para apostas esportivas.

“Se [o governo] tivesse diminuído o valor dessa licença, eles teriam arrecadado muito mais”, observa ele. “Inclusive de empresários brasileiros. Esse número visa empresários de um alto nível, que geralmente são aqueles de fora. O resultado acaba sendo uma concentração maior do mercado em menos empresas e menos concorrência.”

Hiago Piau, CEO e fundador da Setebit, no CGS Recife 2024. Imagem: Instagram/Reprodução

O processo de regulamentação no Brasil, segundo Hiago, tem sido implantado de forma muito acelerada, sem a devida vagarosidade. Ele acredita que, para ser efetivado corretamente, levaria pelo menos o dobro do tempo. “O que nós temos é um governo que quer fazer o mais rápido possível pra arrecadar o mais rápido possível”, opina.

Na terça-feira (26), em sessão da CPI das Bets, o senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou o governo federal, que, segundo ele, demorou a efetivar a regularização das apostas online:

“Se falava que o Brasil iria arrecadar R$ 15 bilhões por ano. Faz um ano então que nós estamos nós já perdemos R$ 15 bilhão, e a gente fica ouvindo o governo falar que vai ter que cortar R$ 6 bilhões para que possa se adequar ao arcabouço fiscal.”

Outorga das bets e muito mais no futuro do mercado

Para Hiago, o futuro nas apostas do Brasil deverá ser marcado por mudanças profundas. No Brasil, desenvolveu-se uma cultura do apostador como “nômade”: “A preocupação está sendo outra, muitos donos de casas de apostas só pensam no jogo, não em experiência do usuário. Foi implantada uma cultura de caçar bônus, então o jogador roda as casas muito, e o dono não quer perder tanto tempo.”

Porém, com a regularização que bate na porta, o cenário deverá mudar. “Com o número mais reduzido de bets, essa rotatividade vai ser atenuada”. O oferecimento de bônus como publicidade também foi proibido pelo governo no dia 19 de novembro.

As bets também deverão assumir mais responsabilidades. “Pela primeira vez, o apostador vai ter direitos, coisa que nunca teve antes”, celebra Hiago. “As casas também têm o seu dever de fazer o jogador não apostar excessivamente, já que a tendência é que o número de apostadores apenas cresça; em menor ritmo, mas se mantenha em alta.”

  • Reportagem de Júlio Boll e João Aguiar
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