Aos 43 anos, Marcelo Freire não sabe precisar bem o momento em que o surfe entrou em sua vida (e que não saiu mais). Foi ainda na infância, costumado a frequentar Fernando de Noronha nas férias, que o mar lhe adotou e se tornou mais do que um local para curtir o descanso: tornou-se um ganha pão. Há mais de 20 anos, ele vive na ilha do nordeste brasileiro, já trabalhou como instrutor de mergulho e acabou se especializando em fotografia.
De lá para cá, seus registros de surfistas manobrando as mais diferentes ondas lhe garantiram o título de um dos especialistas no assunto. Ítalo Ferreira, atual campeão olímpico brasileiro, é um de seus grandes conhecidos e um de seus fotografados preferidos.
“Ele é do nordeste, está sempre lá e se destaca muito nas ondas. Ele é um cara que, quando vejo dentro da água, é outro esporte”, elogia.
Quando se fala no início da fotografia dentro do mar, as trocas com amigos e as brincadeiras com câmeras analógicas são as primeiras lembranças. Ainda na juventude, Freire começou a clicar outros com os modelos mais simples de máquinas fotográficas, com revelação diretamente no papel filme. Houve até mesmo aquele tempo em que os surfistas viam as imagens em um notebook.
“Eu gravava as fotos naquele CDzinho, sabe? Ficava três esperando pra gravar, travava…. (risos)”, relembra. “Hoje ficou tudo mais fácil, tira a foto e já vê na hora.”
Aos poucos, essa paixão pelo mar foi se transformando em mandamento de vida: largou São Paulo e passou a viver em Noronha. Entre outubro e abril, o foco é o surfe – já que é o período em que as ondas “são melhores” e que lhe garante um bom ganho com as fotos. O resto do ano atua no turismo. “No fim, é aquele período de ondas que me garante o sustento o resto do ano.”
Ao longo das mais de duas décadas dedicado às fotos, Freire coleciona viagens internacionais. Costa Rica, Filipinas, México, Maldivas… enfim, um apanhado de países está em sua lista de visitas feitas para o registro dos mais variados surfistas. Se fosse escolher um destino apenas, a resposta é rápida:
“Para qualquer surfista que conhece, é tipo a Disneylândia do surfe: a Indonésia. Deus fez ela pro surfe. São as ondas mais longas, tem de um quilômetro. É, de longe, o melhor lugar do mundo para o esporte.”
Mesmo com tantos destinos, Noronha não tem substituição. Até quando vai tudo isso? Até o fim dos tempos. Certamente.
“Eu não penso em mudar de Noronha, não, penso em trabalhar todo dia um pouquinho só (risos).”